Política de transportes sob fortes críticas

Ganham os privados perdem<br>os utentes

O PCP acusou o Go­verno de re­tomar a po­lí­tica das par­ce­rias pú­blico-pri­vadas (PPP) e de as querer aplicar aos trans­portes pú­blicos de Lisboa e do Porto.

Go­verno quer trans­formar ser­viços pú­blicos como os trans­portes em ne­gó­cios pri­vados

Em causa os dois di­plomas re­la­tivos à con­cessão do ser­viço pú­blico do Me­tro­po­li­tano e da Carris, vistos pela ban­cada co­mu­nista como mais uma peça da po­lí­tica de trans­portes do Go­verno cujo único ob­jec­tivo é o de «trans­formar ser­viços pú­blicos em ne­gó­cios pri­vados».

Disse-o com todas as le­tras o de­pu­tado co­mu­nista Bruno Dias na apre­ci­ação par­la­mentar sus­ci­tada pela sua ban­cada a cada um dos dois de­cretos-lei, que fez acom­pa­nhar de cor­res­pon­dentes pro­jectos de re­so­lução vi­sando a sua ces­sação de vi­gência, ini­ci­a­tivas le­gis­la­tivas que a mai­oria PSD/​CDS-PP viria a chumbar faz hoje oito dias.

O ob­jec­tivo é «re­es­tru­turar para criar sus­ten­ta­bi­li­dade» nas em­presas de trans­porte, ar­gu­men­taram as ban­cadas da mai­oria em abono das me­didas Go­verno. In­vo­caram ainda as dí­vidas acu­mu­ladas para dizer que se nada ti­vesse sido feito no final da pre­sente le­gis­la­tura o seu valor as­cen­deria a 23 mil mi­lhões de euros, se­gundo o de­pu­tado Rui Bar­reto (CDS-PP).

O se­cre­tário de Es­tado dos Trans­portes, Sérgio Mon­teiro, por seu lado, alegou que o «in­ves­ti­mento será as­su­mido pelos pri­vados que to­marão conta da con­cessão», que os bi­lhetes a pagar pelos utentes se «ajus­tarão em face da in­flação e não mais», que os «ac­tivos se mantêm na es­fera pú­blica» e que ha­verá «pou­pança de di­nheiro» do erário pú­blico.

O que não foi dito nem pelo go­ver­nante nem pelos de­pu­tados da mai­oria é que esse en­di­vi­da­mento du­rante dé­cadas é o fruto do «sub­fi­nan­ci­a­mento cró­nico» a que as em­presas pú­blicas foram su­jeitas, ao ponto, como des­tacou Bruno Dias, de ter sido criada uma «dí­vida tão grande» que hoje, com o in­ves­ti­mento pra­ti­ca­mente a zero, a dí­vida cresce já só com o pa­ga­mento de juros, a usura e a es­pe­cu­lação fi­nan­ceira».

Pri­vados a lu­crar

Ora o que está pers­pec­ti­vado com mais esta en­trega de um ser­viço pú­blico aos pri­vados é o «agra­va­mento de todo este ce­nário», alertou Bruno Dias, des­ta­cando a este pro­pó­sito que as em­presas pú­blicas fi­ca­riam re­du­zidas a uma única re­ceita – a pro­ve­ni­ente da bi­lhe­teira –, fi­cando si­mul­ta­ne­a­mente obri­gadas a pagar ao sub­con­ces­si­o­nário pri­vado um mon­tante anual que «é maior do que a re­ceita de bi­lhe­teira ar­re­ca­dada».

«Fi­ca­riam sem qual­quer outra hi­pó­tese que não fosse a de se en­di­vi­darem mais uma vez em nome do Es­tado para su­por­tarem os seus custos pró­prios re­la­tivos ao ser­viço da dí­vida, ao pa­ga­mento dos com­ple­mentos de re­forma e a todas as res­tantes obri­ga­ções que mantêm no con­trato de con­cessão», su­bli­nhou o de­pu­tado do PCP, con­victo de que com mais esta PPP, a não ser re­ver­tida, quem sairá a lu­crar são os sub­con­ces­si­o­ná­rios pri­vados – «re­cebem mi­lhões e ainda ficam com o di­reito de ex­plorar di­rec­ta­mente a pu­bli­ci­dade, es­paços co­mer­ciais e ou­tros ser­viços de ren­ta­bi­li­zação do pa­tri­mónio», anotou –, en­quanto que para as em­presas pú­blicas «so­braria a as­fixia fi­nan­ceira».

Para a evo­lução fu­tura dos preços a pagar pelos utentes chamou ainda a atenção a ban­cada do PCP, que não vê ne­nhum mo­tivo para con­fiar nas ga­ran­tias do Go­verno, ad­ver­tindo que este é mais um factor de agra­va­mento para os utentes, a juntar às re­du­ções de oferta im­postas nestes três anos com os olhos postos já na pri­va­ti­zação.

Ra­zões que le­varam Bruno Dias a con­si­derar que o País não está con­de­nado a esta po­lí­tica e que a al­ter­na­tiva passa por pro­ceder ao sa­ne­a­mento fi­nan­ceiro das em­presas «não para be­ne­fi­ciar os in­te­resses pri­vados dos grupos eco­nó­micos mas sim para de­fender o in­te­resse pú­blico».




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